quarta-feira, 2 de abril de 2008

Um tom só

Eu tenho a culpa do ócio. Devo fazer mais do que consigo ou preciso para ser devidamente aceito nos meios sociais que convivo. Eles contam as horas e os minutos - às vezes até os segundos - que fico sem produzir. No fim do dia, cobram tudo, centavo por centavo, no meu travesseiro afundado pelo peso da cabeça que pensou demais e que se culpa demais. Quem guia meus passos é o relógio, preciso, implacável. Tenho segundos contados para sofrer uma ação e emitir uma resposta; e preciso emitir muitas respostas, o dia inteiro. Parênteses: Creio que já deixaram de ser respostas e viraram emissões aleatórias, mas ainda não estou certo disso, pois não parei para pensar no assunto - fecha parênteses. Tenho pensado em muitas coisas, mas não tenho tempo de registrar meus pensamentos, já que o tempo do registro não é interessante para eles, e então vem novamente a culpa do ócio. Acho que sou ansioso e tenho pensamentos fragmentados. Eles perguntam o que eu quero dizer, o que eu preciso dizer, mas tudo que eu consigo é calar. Tenho uma vida tão cansativa quanto este texto de um tom só. Um tão só.